quarta-feira, 15 de março de 2023

As Coisas que Faltam - Rita da Nova [Opinião]

 

Título: As Coisas que Faltam
Autor: Rita da Nova
Editor: Manuscrito Editora
Ano: 2023
N.º de Páginas: 256

«Esta ideia de que havia uma espécie de fio invisível a ligar as filhas aos pais fez sentido. Havia algo que me impelia a procurar o meu pai, a agarrar esse fio e a puxá-lo, até conseguir aproximá-lo de mim.»

Quando tinha oito anos, Ana Luís pediu pela primeira vez para conhecer o pai. Era muito comum a mãe dizer-lhe que não a tudo - não, não podia ir para casa das colegas porque tinha de estudar; não, não podia comer gelados porque eram só gelo e açúcar. De todas as respostas negativas que estava habituada a receber, porém, aquela foi a que doeu mais.

Ana Luís cresce a sentir que lhe falta algo e que não pertence a lado nenhum. a convivência com a mãe, uma mulher fria e dominadora, aprisiona-a num lugar solitário.

É na figura do pai que deposita todas as suas esperanças: ele é a peça do puzzle que falta e, quando o conhecer, a sua vida vai finalmente fazer sentido e sentir-se-á completa.

As Coisas que Faltam, o tão aguardado romance de estreia de Rita da Nova, traz-nos a história de uma mulher à procura do seu lugar no mundo.

Numa trama de densidade emocional crescente, a autora explora com destreza a complexidade da identidade humana, a importância do círculo familiar e as histórias que se repetem, às vezes de geração em geração.

Ana Luís sempre se sentiu incompleta. Vive com a mãe, num pequeno apartamento, e o seu desejo principal é conhecer o pai. Mas esse desejo é-lhe sempre negado. A mãe, uma mulher sozinha e que vive para o trabalho, é bastante severa e austera. Deseja para a filha uma vida melhor do que a teve e prende-a na sua bolha, não a deixando descarrilar.

Por essas e por outras coisas Ana Luís sonha com uma vida diferente, ao lado de um pai presente. Esse lado da sua vida que falta pode ser a peça-chave para a sua felicidade.
 
Rita da Nova dá-nos a conhecer uma personagem sofrida, em busca do seu passado, das suas origens, e que embate num muro de pedra que nada lhe diz. A fim de a proteger, esta mãe acaba por criar uma barreira ainda maior, afastando a filha de si a cada dia que passa.
 
Ana Luís é uma menina inconformada que se transforma numa mulher em busca de respostas. Quando elas finalmente lhe são dadas criam nela uma angústia ainda maior porque continua a não saber a história em profundidade.
 
Será que a sua vida poderia ter sido diferente se a verdade não lhe tivesse sido sonegada? Estas são perguntas que fui fazendo ao longo do livro. Sou a favor de que a verdade esteja sempre presente, mesmo que seja dolorosa.
 
Rita da Nova escreve bem, muito bem e criou uma história envolvente e interessante. Prendeu-me do princípio ao fim a história de Ana Luís e compadeci-me desta mãe tão sofrida que só queria proteger a filha e amá-la à sua maneira.


 



terça-feira, 14 de março de 2023

Gosto de Mim - Antti Ervasti e Matti Pikkujämsä [Opinião]

Título: Gosto de Mim
100 sessões curtas de terapia para estar bem na sua companhia
Autor: Antti Ervasti e Matti Pikkujämsä
Editor: Pergaminho
Ano: 2023
N.º de Páginas: 224

«Mesmo uma pequena ação positiva ajudará a combater a sensação de isolamento.»

A solidão afeta-nos a todos; em menor ou maior grau, e de formas muito diferentes, mas nenhum de nós, por muito «extrovertido» que seja, consegue ficar inteiramente imune a ela. Para alguns, na verdade, trata-se de um combate que dura a vida inteira. Mas há coisas - pequenas e progressivas - que todos podemos fazer para combater esse sentimento tão opressivo. Os textos deste livro, ilustrados com evocativas imagens de simpáticos animais, são como pequenas fábulas terapêuticas que ilustram, com reflexões e intimações, como podemos reconhecer, compreender e destigmatizar a solidão, e aprender a viver (muito) bem na nossa companhia.


Quem me conhece sabe que não sou fã de livros de auto-ajuda, mas esta coleção de Gosto de Ti e Gosto de Mim chama por mim desde que foi publicada.

 
Gosto de Ti está na minha estante ainda por ler, mas o Gosto de Mim saltou logo para o meu colo para ser lido.
 
Com pequenos textos e acompanhado de belíssimas ilustrações de Matti Pikujämsä Gosto de Mim trata da solidão desde a infância até ao envelhecimento.
 
Dividido pelas diferentes fases da vida este é um livro que de uma forma simples fala sobre a solidão que de uma forma ou de outra nos vai assolando. A solidão de não ter amigos, de se sentir excluído de um grupo, sobretudo na infância, de não criar amizades para a vida ou não ter um companheiro que nos faça companhia na idade adulta. E na velhice o sentir-se só sobretudo pelo falecimento do no marido ou esposa e dos amigos de longa data.

Seja uma solidão que sempre existiu ou então o sentir-se por um curto período da nossa vida, toda a gente já se sentiu em alguma ocasião. E, por isso, temos de saber combatê-la. E é isso que este pequeno livro nos ajuda a fazer, através de pequenas fábulas acompanhadas de ilustrações fantásticas.






terça-feira, 7 de março de 2023

Até Quando? - Patrícia Madeira [Opinião]

Título: Até Quando?
Autor: Patrícia Madeira
Editor: Cultura Editora
Ano: 2023
N.º de Páginas: 368

As amizades guardam segredos. Os segredos não guardam amizades.

Um grupo de amigas viaja para Las Vegas, nos Estados Unidos da América, a propósito da despedida de solteira de uma delas, Catarina.

Aquela que seria a viagem perfeita para aventura e diversão, traz-lhes, contudo, muito mais do que isso: os seus casamentos, profissões, amores e rancores, dúvidas e convicções... tudo vai ser colocado à prova, mostrando-lhes que, das certezas da vida, a mudança é talvez a mais real.


✈️Apesar de já me terem passado pelas mãos e pelo kobo os livros da Patrícia Madeira ainda não tinha tido oportunidade de os ler. A autora, conhecida pelos livros da série A Prisioneira do Tempo surge agora com um livro completamente diferente, mais virado para as relações interpessoais e do dia a dia.

✈️“Até Quando?” chegou até mim por intermédio da editora, a quem muito agradeço, e ainda antes de sair para as livrarias já era minha companhia nas miniférias que tirei.

✈️Com o principal propósito de celebrar a despedida de solteira de Catarina, oito amigas decidem organizar uma festa em grande. Jéssica, assistente de bordo, devido a vastos conhecimentos, consegue viagem para todas de graça e a estadia fica também por um preço irrisório já que ficarão hospedadas no mesmo hotel que a restante tripulação. A viagem tem destino a Las Vegas e deixa quase todas as mulheres em êxtase. Quase todas porque algumas decidem não ir. Ou porque têm um namoro recente, ou porque têm de cuidar da família ou emprego…

✈️Depressa vamos percebendo as prioridades de cada uma nas suas vidas. E também as suas ambições futuras.

✈️São nove amigas muito diferentes entre si, mas cujos feitios depressa nos fazem reconhecer nós próprias em cada uma delas, ou das nossas amigas. Eu consegui identificar umas quantas semelhanças entre o meu grupo de amigas. Se observarmos bem há sempre uma Catarina, uma Luísa ou até uma Júlia no nosso grupo e isso é que eu acho interessante num livro. Adoro identificar-me com a história e visualizar-me nela.

✈️Catarina é a noiva. Workaholic assumida, vive para o trabalho em detrimento da vida pessoal. Deixa muitas vezes o noivo para segundo plano, o que poderá ter repercussões no seu futuro. Jéssica, a assistente de bordo, é uma rapariga completamente despreocupada com a vida que depressa me fez lembrar os antigos marinheiros com um amor em cada porto. Não tem quaisquer pudores em assumir os seus desejos imediatos.

✈️Júlia é a aventureira do grupo e Mel é a apaixonada. Modelo, bonita, apaixona-se perdidamente por um homem lindíssimo, que tem tudo para ser perfeito. Luísa é completamente dedicada à família, optando por deixar de trabalhar para estar em exclusividade à mercê dos filhos e marido. Eva é a mais sofrida do grupo é uma mulher que nunca foi feliz. Beatriz é divorciada com dois filhos, Paloma vive com o sonho de um grande amor e, por fim, temos Susana, uma mulher mais prática.
Perante tal disparidade de interesses e feitios é fácil revermo-nos em pelo menos um delas. Assim como revemos cada uma das nossas amigas, o que torna este livro mais interessante e próximo da nossa própria realidade.

✈️E foi precisamente isso que me prendeu ainda mais à história e ao rumo que ela levou depois da viagem a Las Vegas, que acabaria por mudar por completo a vida destas nove mulheres, direta ou indiretamente.
Patrícia Madeira escreve muito bem e de uma forma leve, mas concisa. Retrata as relações amorosas, profissionais, violência doméstica, a falta de poder económico, a infidelidade, o flirt entre colegas de trabalho de uma maneira tão objetiva que prende o leitor às mais de 300 páginas deste livro tornando a sua leitura prazerosa e rápida.

✈️Este é um livro de mulheres, para mulheres e muito bem escrito por uma mulher.






sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Viral - Robin Cook [Opinião]

 

Título: Viral
Autor: Robin Cook
Editor: Bertrand Editora
Ano: 2023
N.º de Páginas: 376

A exposição de uma família a um vírus raro, contudo letal, colocá-la-á no epicentro de um perigo aterrador para todos nós - e revelará um sistema de saúde enredado na ganância e na corrupção.

Brian Murphy e a família estão a desfrutar de umas férias de verão retemperadoras até que a sua mulher, Emma, começa a exibir sintomas ligeiros semelhantes aos da gripe. Quando o seu estado de saúde se agrava dramaticamente, a viagem de regresso a casa, em Nova Iorque, rapidamente se transformará numa corrida contra o tempo para chegar às urgências. No hospital, o diagnóstico assusta: encefalite equina do Leste, uma doença rara, altamente letal e… viral, contraída por certo através de uma picada de mosquito. Ainda pior: a filha de ambos começa a exibir sinais alarmantes da mesma doença.

Uma angustiante estadia no hospital torna-se ainda mais aflitiva quando Brian recebe uma conta astronómica que a sua seguradora se recusa a pagar, invocando cláusulas dúbias do contrato. Forçado a escolher entre a saúde da sua família e contas que não consegue pagar, e indignado com um sistema de saúde onde reina a indiferença e um desprezo frente a um vírus que representa uma ameaça séria, Brian decide-se por fazer a sua justiça.

À medida que desvenda o lado negro de uma indústria implacável que se alimenta dos mais doentes e indefesos, tornar-se-á claro para ele que os responsáveis terão de sofrer as consequências… custe o que custar.

💉 A pandemia Covid-19 deixou o mundo alerta sobre a fragilidade que é o ser humano. Um simples vírus pode originar a morte de milhões de pessoas e a procura pela cura, incessante para que este conseguisse ser travado. Mas, infelizmente, este não é nem será o único vírus fatal como bem sabemos. Os países mais quentes, tropicais, são assolados por vírus pandémicos que chegam a matar famílias inteiras. Não é de estranhar, pois, que o animal mais perigoso seja o mosquito. Além de ser portador de vírus fatais, este ser tão pequeno transporta-os para todo o lado, sem que consigamos quase impedi-lo.

🚑Foi o que aconteceu a uma família nova iorquina que, num dia de férias de verão, vê a sua vida mudar quando quando um mosquito pica Emma. A jovem mulher começa a sentir sintomas semelhantes a uma gripe normal, embora tenha identificado na perfeição o mosquito que a mordeu: um transmissor da doença encefalite equina, bastante comum na região oeste do continente americano.

🔬Emma parece piorar a olhos vistos e a família decide regressar a Nova Iorque a fim de serem prestados cuidados médicos adequados. Nas urgências do hospital Emma é tratada, mas acaba por ser internada em estado grave.

Estes acontecimentos vão revelar um sistema de saúde que não olha a meios para obter o lucro, em prejuízo da saúde vital do paciente. 🏥Embora estivesse à espera de um thriller médico, visto conhecer a escrita de Robin Cook há muitos anos, este livro surpreendeu-me pela positiva. Cook revela o quão podre é o sistema de saúde norte-americano, mostrando que apenas quem tem dinheiro e bons seguros de saúde se consegue safar.

🏥Estes dias no hospital e em negociações com a seguradora vão ser angustiantes para Brian, que mostra ser uma pessoa bastante forte e combativa. Com contas a aumentarem a cada hora, e com a seguradora a esquivar-se de tudo, Brian fica entre a espada e a parede, levando-nos a refletir até onde conseguiríamos ir para salvar uma vida humana que nos é tão próxima.
Gostei imenso.




sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Silêncio Mortal - Robert Bryndza [Opinião]

 

Título: Silêncio Mortal
Autor: Robert Bryndza
Editor: Alma dos Livros
Ano: 2023
N.º de Páginas: 312

Uma criança de três anos foi deixada sozinha numa tenda.
Quando a mãe aparece, minutos depois, descobre que ela desapareceu.
O inferno começa. o que terá acontecido?

Kate Marshall é levada para as urgências do hospital depois de ser arrastada por uma corrente no mar. Durante a recuperação, Kate faz amizade com Jean, que lhe conta a história angustiante de como o neto de três anos desapareceu sem deixar rasto, durante um acampamento há onze anos.

Assim que se recompõe, Kate reabre aquele caso e depara-se com uma série de contradições nos relatos. Inicia então uma busca vertiginosa para perceber o que realmente aconteceu, numa luta definitiva contra todas as probabilidades.

Ao ler o processo, verifica que Jean tem um passado sombrio, que pode ter colocado Charlie em perigo. Além disso, descobre que a assistente social que investigava a criança foi encontrada brutalmente assassinada dias depois do desaparecimento de Charlie e que a filha de Jean - mãe da criança - acabou também por morrer.

O mistério adensa-se. A verdade esconde-se nas sombras. Kate questiona tudo o que pensava saber sobre aquela família. Conseguirá ela desvendar o caso e descobrir o que realmente se passou naquela noite? Conseguirá descobrir o que aconteceu à criança, tantos anos depois?

🧒Quando o pequeno Charlie desaparece de um parque de campismo selvagem, os pais e avó do menino ficam completamente destroçados. Não o conseguem encontrar e a polícia aponta a possibilidade de este se ter afogado no pântano ali perto.

🧓Onze anos se passaram e Charlie ainda é uma criança desaparecida. A avó, sentindo-se responsável por este trágico acontecimento, é uma mulher vazia e sem objetivos de a vida a não ser encontrar o neto. A oportunidade surge quando se cruza com a detective privada Kate Marshall no hospital.

👱🏼‍♀️Sim, Kate encontra-se no hospital depois de ter sido apanhada numa corrente no mar que quase lhe é fatal e é aí que encontra Jean e fica curiosa com a sua história de vida. Aceita prontamente o caso, embora saiba que será um caso difícil de resolver.

📒O livro centra-se neste caso e na busca desenfreada por respostas, embora não haja muito que investigar. Onze anos é muito tempo e muitos dos detectives envolvidos no caso já não se encontram no ativo.

👱🏼‍♀️No entanto, isto não parece fazer esmorecer Kate, que com a ajuda do inseparável Tristan conseguem algumas pistas sólidas que os vão ajudar na resolução da investigação.

👱🏼‍♀️Continuo a gostar imenso de Kate, uma mulher inteligente, mas fragilizada pelo seu passado. Está constantemente a ser posta à prova, mas com a sua força interior e a ajuda de Tristan e do filho, consegue não fugir da linha. Tristan também continua a ser uma excelente escolha de parceiro de Kate e ambos fazem uma dupla imbatível.

📒Apesar de não ser um livro com uma história surpreendente consegue ser lido de uma assentada dado o ritmo alucinante da narrativa.

O desaparecimento de um filho, o sentimento de culpa e a posterior degradação dos pais enquanto casal e enquanto pessoas é muito bem explorado por Bryndza, tendo sido a parte que mais gostei de ler.





A Rede Púrpura - Carmen Mola [Opinião]

 

Título: A Rede Púrpura
Autor: Carmen Mola
Editor: Suma de Letras
Ano: 2022
N.º de Páginas: 376

Num dia quente de verão, a inspetora Elena Blanco, chefe da BAC, irrompe na casa de uma família de classe média e dirige-se ao quarto do filho adolescente. No ecrã do computador, confirmam aquilo que temiam: o rapaz está a assistir a uma sessão snuff ao vivo, na qual dois homens encapuzados torturam uma rapariga. Incapazes de ajudar, observam como o sádico espetáculo continua até à morte da vítima, cujo nome ainda não conhecem. Quantas antes dela caíram nas mãos da Rede Púrpura?

O BAC investiga esta organização sinistra desde que veio a lume no caso Noiva Cigana. Há meses que se recolhe informação sobre este grupo que trafica, em vídeos de violência extrema, na Dark Web, o lado negro da Rede. Durante todo este tempo, Elena Blanco manteve em segredo, mesmo do seu parceiro, o sub-inspector Zárate, a sua mais importante descoberta e o seu maior medo: que o desaparecimento do filho, Lucas, quando era apenas uma criança pudesse estar relacionado com esta macabra conspiração.


✍🏻Quem leu A Noiva Cigana estava ansiosamente à espera de uma continuação que já tinha sido publicada em Espanha por Carmen Mola, um pseudónimo atribuído a três escritores espanhóis.

👱🏼‍♀️Elena Blanco continua como protagonista da história com vontade de desmascarar toda uma organização macabra denominada Rede Púrpura.

📹Estes são responsáveis por criar um clima de medo, mas também uma onde de estupefação quando se descobre que atuam na dark web onde leiloam espectáculos de extrema violência, cujo único desfecho é a morte de um dos lutadores.

O que já parece demasiado difícil, torna-se praticamente impossível quando Elena descobre que um dos elementos da rede é o seu filho Lucas, raptado há uns anos.

Elena fica assim numa espécie de limbo. Quer descobrir e desmantelar a rede, mas quer salvar o seu filho, que agora não reconhece.

Para os leitores mais sensíveis este não é um livro recomendável. As descrições são bastante gráficas e cruéis, mas faz-nos pensar a que ponto pode chegar a maldade humana. E eu, acredito que existem muitas redes deste género um pouco por aí…

A Rede Púrpura tem uma qualidade superior ao primeiro livro publicado pela tripla. Está muito bem estruturado, com uma história original que prende o leitor logo no início da investigação quando o BAC entra de rompante numa casa de uma família banal e encontram um adolescente a assistir a uma sessão ao vivo em que dois encapuzados torturam uma rapariga até à morte desta.

O poder das seitas, a forma como entram na cabeça das pessoas, tornando-os dependentes do que o líder diz, é um ponto muito bem explorado pelos escritores.





segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

A Camareira - Nita Prose [Opinião]

 

Título: A Camareira
Autor: Nita Prose
Editor: Editorial Presença
Ano: 2022
N.º de Páginas: 328

Sejam bem-vindos. Sou a vossa camareira. Entro nos vossos quartos e conheço os vossos segredos.
Molly, a camareira, está completamente sozinha no mundo. Sim, está habituada a ser invisível, e é isso mesmo que também é no Regency Grand Hotel, onde, todos os dias, dobra roupa, faz as camas dos quartos de lavado, põe miniaturas de champô e pequeninos sabonetes nas casas de banho, limpa o pó e os segredos que os hóspedes deixam para trás quando fazem check-out. Ela é apenas uma camareira - porque haveria alguém de reparar nela?

Mas isso está prestes a mudar radicalmente. Todos os holofotes se viram para Molly quando é ela quem descobre o famigerado Mr. Black morto e bem morto na cama da sua suíte. Este não é o tipo de confusão que Molly pode limpar rapidamente. Porém, à medida que a teia de mentiras, sussurros, pistas e enganos se vai espalhando pelos corredores do Regency Grand Hotel, ela descobre que tem, dentro de si, um dom para a investigação. Sim, é apenas uma camareira - mas o que conseguirá Molly ver que todos os outros ignoram?

Mistério, suspense e muitas reviravoltas no romance que está a apaixonar leitores em mais de vinte países. Como pode uma pessoa ser, ao mesmo tempo, tão normal e extraordinária?

🛏️ Depois da sinopse e da capa fantástica, achei que este livro seria perfeito para mim.
Molly Maid é a protagonista deste romance com uma dose de mistério bastante peculiar. É uma apaixonada por aquilo que faz e, por isso mesmo, tem brio no seu trabalho. Molly é uma rapariga especial que logo nos remete para alguém que sof4ra do especto do autismo, embora em nenhuma altura do livro isso seja referido.

🪠É camareira num hotel de luxo, mas ninguém repara nela. Não consegue fazer amizade com ninguém e a única pessoa com que se dava era a sua avó, que morreu há 9 meses.

🧻Esta jovem vive agora sozinha e é a perfeição em pessoa. Mas é facilmente influenciável porque acaba por levar tudo à letra, sem segundas interpretações. Por causa disso, os seus colegas acabam por enganá-la.

⚰️Num dia perfeitamente normal, Molly depara-se com o corpo morto de Mr. Black, uma hóspede habitual do hotel e marido de uma sua “amiga”. A polícia é chamada ao local e depressa a investigação chega à conclusão de que o hóspede foi assassinado e uma das principais suspeitas recai sobre Molly.

🧹Esta camareira é uma personagem ingénua, e que é difícil de interpretar por quem não a conhece. Ao mesmo tempo é deliciosa porque nada para ela tem maldade ou filtros. E foi isso que me agradou mais neste livro. 

🧹A forma como Molly vê no mundo, como encara a sua profissão e como acha que as pessoas deviam proceder sob determinadas situações fazem-nos pensar na forma como nós próprios encaramos a vida.
Relativamente à história em si achei que tinha pouco sumo. Sinceramente se a autora pretendia escrever um thriller errou completamente. A investigação não tem qualquer coerência e o desfecho foi um tanto ou quanto patético e esperado. A mudança de atitude por parte de Molly numa parte da história também não fez qualquer sentido.

🧽 No entanto, os prós são claramente maiores que os contras e recomendo, sem qualquer dúvida, a sua leitura.





Sob Um Céu Escarlate - Mark Sullivan [Opinião]

 

Título: Sob Um Céu Escarlate
Autor: Mark Sullivan
Editor: Cultura Editora
N. de Páginas: 464

Pino Lella não quer nada com a guerra ou com os nazistas. Ele é um adolescente italiano normal - obcecado por música, comida e miúdas, mas os seus dias de inocência estão contados. Quando a sua casa em Milão é destruída pelas bombas dos Aliados, Pino junta-se a uma via-férrea subterrânea ajudando judeus a escapar dos Alpes e apaixona-se por Anna, uma bela viúva seis anos mais velha do que ele.
Numa tentativa de protegê-lo, os pais de Pino forçam-no a alistar-se como soldado alemão - julgando que assim o manteriam longe de combate. Mas Pino é ferido e depois recrutado, aos dezoito anos, como motorista pessoal do general Hans Leyers, o caudilho de Adolf Hitler na Itália, e um dos comandantes mais misteriosos e poderosos do Terceiro Reich.
Agora, com a oportunidade de espiar o Alto-Comando Alemão, Pino luta em segredo, suportando os horrores da guerra e da ocupação, tendo a sua coragem reforçada pelo seu amor por Anna e pela vida que ele sonha que um dia compartilhar.


📙 Considerado o livro do ano de 2017 pelo Goodreads Sob Um Céu Escarlate retrata a Segunda Guerra Mundial através da vida de Pino Lella.

🙎Apesar de estar baseado em factos verídicos, estava à espera de uma leitura mais intensa. Gostei do livro, gostei da leitura conjunta, mas contava com um pouquinho mais, dado as opiniões tão boas aquando da sua publicação por cá.

🙎Já li bastantes livros sobre a temática, mas que se centrem na parte de Itália não existem muitos. Essa parte prendeu-me muito e achei bastante curiosa. Pino Lella é uma personagem. Adolescente que vive obcecado em arranjar uma namorada, Pino leva uma vida normal. Sai com os seus amigos, vai ao cinema e corteja raparigas bonitas. Até que uma ida ao cinema muda por completo a sua vida. Uma bomba cai em plena sala e a sua família, para o proteger vai fazer com que este saia da sua casa de Milão e parta para uma espécie de mosteiro nos Alpes.

🧏O jovem vai um pouco contrariado, mas a sua vida não vai ter nada de monótono. Durante a sua estada nos Alpes Pino vai ajudar muitos judeus a fugir para a Suíça a escapar precisamente pela montanha. E essa foi a parte mais interessante do livro para mim. Mostra um jovem perseverante, forte e bastante corajoso.

🕵️De volta a Milão e no sentido de protegê-lo, os tios convencem-no a alistar-se do lado dos alemães, mas com o intuito de se torna espião. Aos 18 anos Pino vai ser motorista de um poderoso general, Hans Leyers, amigo chegado de Adolf Hitler na Itália, e um dos comandantes mais misteriosos.
E é na casa de Hans que Pino vai reencontrar uma antiga paixão. Anna, uma rapariga que tinha conhecido pouco antes de viajar para os Alpes.

🕵️O jovem vai viver um vida emocionante e perigosa, mas nunca desarma e acaba por
ser preponderante para a queda dos nazis em Itália.

🧏Tal como disse no início gostei imenso do livro, mas faltou um bocadinho para se te tornar uma leitura 5 estrelas. Faltou uma abordagem ainda mais aprofundada da presença nos nazis em Itália, e da ligação com Mussolini. No entanto, foi uma boa leitura que aproveitei para o projecto da Dora Santos Marques. 






O Rapaz no Cimo da Montanha - John Boyne [Opinião]

 

Título: O Rapaz no Cimo da Montanha
Autor: John Boyne
Editor: Edições Asa
N.º de Páginas: 224

Pierrot é filho de mãe francesa e pai alemão. Quando fica órfão, com apenas sete anos de idade, tem de abandonar Paris para ir viver com uma tia, a única familiar que lhe resta, numa casa nos Alpes Bávaros.

Mas não estamos numa época qualquer: decorre o ano de 1936 e a Segunda Guerra Mundial está na iminência de eclodir; nem tão-pouco estamos numa casa qualquer: a casa no cimo da montanha, onde a tia trabalha e para onde Pierrot se muda, é nada mais nada menos que a Berghof, a casa-refúgio de Adolf Hitler.

Facilmente Pierrot se torna menos francês e mais alemão, deixando-se seduzir pelo poder da farda e pela força da mensagem nazi. Mas… a que custo? E se aconteceu a Pierrot, não poderia também acontecer a cada um de nós?



Pierrot Fisher é um rapaz natural de Paris. O pai, um alemão que combateu na Primeira Guerra Mundial, carrega um trauma de guerra que o leva a beber muito. Sem conseguir superar o que presenciou na frente de batalha, acaba por se suicidar atirando-se para uma linha de comboio.

A mãe, francesa, vê-se a braços com uma criança pequena e com uma doença que a iria levar também a morte precocemente. Pierrot fica órfão e sem ninguém para tomar conta dele. Apesar de ser um menino encantador e ter como melhor amigo Ashner, um vizinho cuja família o acolhe temporariamente, o menino será inscrito num orfanato com o intuito de ser adoptado o quanto antes.

Naquele local onde é difícil fazer amizades, Pierrot sente a falta de Ashner, o seu amigo surdo que os leva a comunicar por códigos. A distância não esmorece a amizade e ambos continuam a escrever cartas um ao outro a contar sobre as mudanças que estão cada vez mais presentes nas suas vidas.
Tudo muda na vida do jovem Pierrot quando chega ao orfanato a notícia que uma tia, irmã do pai, pretende que o menino vá viver com ela numa casa isolada, no cimo da montanha pertencente ao “senhor”.

A tia, governanta da dita casa, tem autorização do patrão para acolher o sobrinho, com a condição de que este se porte bem. Pierrot vai viver um novo mundo, numa casa recheada de criados e cuja devoção, ou medo, pelo “senhor” é enorme.

O “senhor” é nada mais nada menos que Hitler, e quando Pierrot vai para a sua casa na montanha, apesar do ditador já se encontrar no poder, ainda não tem começado a II Guerra Mundial. Mesmo assim, e sabendo que o Führer não gosta de franceses, a tia decide mudar o nome de Pierrot para Pieter, um nome mais condizente com a nova realidade do rapazinho.

Do menino, melhor amigo de um judeu, Pierrot estabelece uma amizade com o maior inimigo deles, e essa amizade vai transformá-lo, deixando-se seduzir pela farda que o senhor lhe dá.




quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

A Casa do Outro Lado do Lago - Riley Sager [Opinião]

 

Título: A Casa do Outro Lado do Lago
Autor: Riley Sager
Editor: Editora Guerra & Paz
Ano: 2023 
N.º de Páginas: 304

Casey Fletcher é uma actriz recém-viúva que tenta escapar a uma série de má publicidade retirando-se para a paz e sossego da casa do lago da sua família no Vermont.
Armada com um par de binóculos e várias garrafas de bourbon, Casey passa o tempo a observar Tom e Katherine Royce, o glamoroso casal perfeito que vive na casa do outro lado do lago.

Um dia, no lago, Casey salva Katherine de se afogar, e as duas travam uma amizade fulminante. Mas quanto mais se conhecem – e quanto mais Casey observa a casa de vidro – mais claro se torna que o casamento de Katherine e Tom não é tão perfeito como parece. E, quando Katherine desaparece repentinamente, Casey suspeita imediatamente de que Tom está envolvido. O que ela não se apercebe é que a história é muito mais complexa do que parece à primeira vista – e que segredos chocantes podem espreitar por baixo das superfícies mais plácidas. Quão bem conhecemos realmente alguém?


📙 Os dois primeiros livros que li Riley Sager arrebataram-me por completo. Vidas Finais então foi mesmo uma leitura fenomenal.
Portanto, fiquei extasiada quando descobri que mais um livro do autor iria ser publicado por cá, agora por outra editora, a Guerra & Paz.

👱🏼‍♀️Sager une uma actriz em decadência, apesar de ser ainda bastante nova, e uma casa isolada num lago no Vermont. Recém-viúva e refém da bebida, Casey passa os seus dias numa depressão profunda que tenta apagar com garrafas e garrafas de bebida.

🏞️A casa no lago faz parte de um conjunto de casas do mesmo género, embora distem uma distância significativa entre elas, para dar privacidade aos seus donos. No entanto, a curiosidade e o facto de não ter mais nada para fazer faz com que Casey se muna de uns binóculos do seu falecido marido e comece e observar os seus novos vizinhos, Tom e Katherine Royce.

👫Aparentemente este jovem casal mostra ter uma relação perfeita, até que um dia Casey salva Katherine de morrer afogada no lago. A partir daí as duas começam a ser mais próximas e faz com que Casey comece a ver que muito provavelmente o casal não seja tão feliz como mostra.

👱🏼‍♀️Até que Katherine desaparece sem deixar rasto, fazendo com que a actriz suspeite de imediato de Tom.
Nenhuma destas personagens são marcantes, mas o enredo é bastante interessante, embora tenha saído da minha zona de conforto. As justificações para o que vai acontecer depois do desaparecimento de Katherine não fazem qualquer sentido para uma mente séptica com a minha, mas acaba por ser engraçado perceber todo o misticismo em volta do lago.

Apesar de não ser tão bom como os anteriores, A casa do outro lago proporciona umas boas horas de leitura.




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