segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Se Isto é um Homem - Primo Levi [Opinião]

Título: Se Isto é um Homem
Autor: Primo Levi
Editor: Dom Quixote
Páginas: 180

Sinopse:
Na noite de 13 de Dezembro de 1943, Primo Levi, um jovem químico membro da resistência, é detido pelas forças alemãs. Tendo confessado a sua ascendência judaica, é deportado para Auschwitz em Fevereiro do ano seguinte; aí permanecerá até finais de Janeiro de 1945, quando o campo é finalmente libertado.
Da experiência no campo nasce o escritor que neste livro relata, sem nunca ceder à tentação do melodrama e mantendo-se sempre dentro dos limites da mais rigorosa objectividade, a vida no Lager e a luta pela sobrevivência num meio em que o homem já nada conta.
Se Isto é um Homem tornou-se rapidamente um clássico da literatura italiana e é, sem qualquer dúvida, um dos livros mais importantes da vastíssima produção literária sobre as perseguições nazis aos judeus.

A minha opinião:
Uma verdadeira desilusão em relação à leitura de Se Isto é um Homem de Primo Levi. 

Sendo este um dos sobreviventes do Holocausto, que tem publicado os mais variados livros sobre o mesmo, já há imenso tempo que desejava ler a sua obra-prima. Finalmente consegui fazê-lo, mas o livro não me arrebatou como estava à espera. 

Comparativamente com outros livros sobre a temática do Holocausto que tenho lido ao longo dos anos, este não trouxe nada de especial e não criei a empatia que desejava com o autor, nem sequer com a história deste no campo de concentração de Auschwitz. 

O livro relata o dia em que Levi entra em Auschwitz, até à sua libertação, praticamente um ano depois pelos russos, mas não senti grandes emoções por parte do autor. Será a frieza inerente a uma situação destas, algo esperada?

O certo é que os relatos impressionam, as histórias sucedem-se, o que Levi passou naqueles meses que resultaram neste livro é inimaginável. Primo Levi foi um dos 20 italianos que sobreviveram ao campo de concentração. 630 desses italianos que estavam por lá acabariam por morrer... Mas o livro não passa disso, de relatos, qual documentário. Eu preferia que houvesse uma história por detrás de todos estes relatos, uma história mais marcante entre Levi e outros homens que conviveram com ele. Não foi isso que aconteceu, ou pouco foi relatado. 

Posto isto, não fiquei curiosa para ler outros livros de Levi e, infelizmente, não recomendo este livro, a não ser para os leitores que não levem demasiadas expectativas à sua leitura. 

Vale pelas frases.

Excertos:
Das quarente e cinco pessoas do meu vagão, só quatro tornaram a ver as suas casas, e o meu vagão foi, de longe, o mais afortunado. 

Num instante, por intuição quase profética, a realidade foi-nos revelada: chegamos ao fundo. Mais baixo não é possível. Condição humana mais miserável não existe, não dá para imaginar . Só bem mais tarde, pouco a pouco, alguns de nós entenderam algo da macabra ciência dos números de Auschwitz, na qual se resumem as etapas da destruição do judaísmo europeu. Aos velhos do Campo, o número revela tudo: a época da entrada no Campo, o comboio com o qual se chegou e, consequentemente, a nacionalidade. 

Ai de quem sonha! O instante no qual, ao despertar, retomamos consciência da realidade, é como uma pontada dolorosa. Isso, porém, raras vezes nos acontece, e os nossos sonhos não duram. Somos apenas uns animais cansados.

Acordar é regressar do nada.

Como poderíamos pensar em não ter fome? O Campo é a fome; nós mesmos somos a fome, uma fome viva.

Aqui é assim. Sabem como é que dizemos "nunca" na gíria do Campo? Morgen fruh: amanha de manhã. 



Depois de meses e anos de Campo de Concentração, não são batatas que podem devolver a força a um homem. 

Quem esperou que o seu vizinho acabasse de morrer para tirar-lhe um pedaço de pão, está mais longe (embora sem culpa) do modelo do homem pensante do que o pigmeu mais primitivo ou o sádico mais atroz. 


2 comentários:

Tita disse...

Olá MM,
Este é daqueles livros sobre o Holocausto que tenho muita curiosidade em ler. Mas já a Dora tinha comentado que não a tinha tocado como esperava.
Ainda quero ler o livro, mas realmente com a tua opinião e a da Dora, vou baixar as expectativas.
Beijinhos e boas leituras.

Maria Manuel Magalhães disse...

Olá Tita,

Acho que o nosso problema (meu e da Dora) foi ler imensos livros sobre Holocausto. Acresce eu estar com demasiadas expectativas em relação ao livro.
Mas tu podes ler e adorar.

Beijinhos e boas leituras

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