Embora tenha começado a ser escrito há mais de dez anos, este romance podia ser motivo de reportagem de uma das mais recentes edições de um jornal ou programa informativo, não fosse a violência doméstica um dos temas que dominam tanto a atualidade noticiosa como a trama de Demência.
Letícia era, até matar para sobreviver, vítima de um marido agressor. Olímpia é a sua sogra, mãe de um filho único, desejado e querido, e também ela vítima: de um homem violento no passado e de demência no presente. As duas reencontram-se quando a primeira regressa à pequena aldeia onde nasceu para prestar assistência à sogra e enfrenta a hostilidade dos aldeões, que não lhe perdoam pela morte do marido.
Determinada a não perpetuar a sua condição de vítima, agora da marginalização e assunção de culpa imposta pelos aldeões, Letícia procura encontrar o seu espaço na comunidade, enquanto ajuda Olímpia a fazer as pazes com o presente. Nas relações que deixaram no seu passado, as duas mulheres conquistam a aceitação e encontram um futuro.
Através das conturbadas vivências de Letícia e Olímpia, Célia Correia Loureiro confronta os leitores com um Portugal inflexível, hermético, por vezes ignorado, e que continua a castigar as vítimas de violência.
Numa pequena aldeia beirã, duas mulheres de gerações diferentes leem o seu destino nas mãos de um mesmo homem: Letícia foi vítima de um marido ciumento e manipulador, e Olímpia é a mãe extremosa desse agressor.
Mas quando Letícia regressa para assistir Olímpia, aos primeiros sinais de demência, os traumas que traz na bagagem ameaçam estilhaçar o silêncio conivente dos aldeões. Ainda que ostracizada, Letícia esforça-se por esquecer os tumultos do seu casamento, enquanto Olímpia pede ajuda ao amigo de infância, Sebastião, para reconstruir as próprias memórias e entender o que se passou com o seu único filho.
Demência traz-nos, através das vivências destas duas mulheres, a dura realidade de um Portugal rural e ainda tendencioso, e faz-nos repensar o significado de família e de comunidade, de inocência e de culpa.
Sobre a autora:
Nasceu em Almada, em 1989. É Guia-Intérprete Nacional e Técnica de Turismo. Fala Italiano, Inglês e Francês. Gosta de gatos e de crepes com Nutella. De todas as cidades que visitou, é por Siena que morre de amores. De todos os autores que leu, destaca John Steinbeck por As Vinhas da Ira, e está sempre disposta a dispensar mais quatro horas da sua vida ao visionamento de E Tudo o Vento Levou. Demência foi o seu primeiro romance publicado, em 2011. É um livro que continua a ser-lhe muito próximo, por ser um grito de revolta contra as circunstâncias da mulher portuguesa no século XX, e da mulher ainda vulnerável, isolada e silenciada pelos bons-costumes, no mesmo contexto de ruralidade, em pleno século XXI.
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