terça-feira, 1 de agosto de 2017

O Prodígio - Emma Donoghue [Opinião]

Título: O Prodígio
Autor:
Emma Donoghue
Tradução: Cláudia Ramos
Págs.: 328
Capa: mole com badanas
PVP: 17,70 €

Sinopse:
A jovem Anna recusa-se a comer e, apesar disso, sobrevive mês após mês, aparentemente sem graves consequências físicas. Um milagre, dizem.
Mas quando Lib, uma jovem e cética enfermeira, é contratada para vigiar a menina noite e dia, os acontecimentos seguem um diferente rumo: Anna começa a definhar perante a passividade de todos e a impotência de Lib. E assim se adensa o mistério à volta daquela pobre família de agricultores que parece envolta num cenário de mentiras, promessas e segredos.
Prisioneira da linguagem da fé, será Anna, afinal, vítima daqueles que mais ama?

A minha opinião: 
Completamente diferente do sucesso o Quarto de Jack (não li o livro, mas vi filme), Emma Donoghue regressa com mais um sucesso literário.

Se no primeiro livro publicado por cá a história era contemporânea, neste viajamos até ao século XIX, a uma família que vive numa localidade recôndita da Irlanda. Há ainda um denominador comum: ambos os livros são baseados em histórias verídicas.

Lib, enfermeira inglesa e discípula de Florence Nightingale, é solicitada para prestar serviço numa aldeia irlandesa, serviço esse que durará 15 dias.

Completamente alheia ao que vai encontrar, Lib vai relatando o que vai sentindo ao longo da viagem. O que vê não lhe agrada, quer o clima, quer a localidade, quer as pessoas. Lib sente-se completamente fora do seu meio.

Viúva, céptica em relação a todos os actos de fé, Lib vai encontrar uma família extremamente religiosa que acredita em milagres e que a sua única filha, consegue sobreviver sem comer. De facto, Anna recusa-se mesmo a comer, dizendo não ter necessidade de o fazer, e sobrevive há quatro meses nessa condição, desde o seu 11.º aniversário.

Porém, depois da chegada de Lib e de uma freira que também foi chamada para vigiar Anna, a jovem começa a definhar de dia para dia.

Anna aparenta ter menos idade, apresenta já marcas de uma pessoa que passa fome e Lib não acredita em milagres. Lib e a freira fazem turnos para vigiar Anna, mas o comportamento da própria família é suspeita.

Ao longo de toda a narrativa vamos tendo contacto com o que se passa com a jovem através dos relatos de Lib e do seu diário onde coloca todas as transformações do corpo de Anna.

Baseado em vários casos de virgens que faziam jejum, conhecido como Virgens Jejuadoras, Emma Donoghue cria uma história fascinante onde facilmente se cria empatia com as personagens principais, Lib e Anna.

Ao longo da história, sobretudo durante a Idade Média, ficaram conhecidas centenas de virgens que deixaram de comer para sofrer como Jesus Cristo. Santa Clara de Assis (1193-1253) e Santa Rosa de Lima (1586-1617) são disso exemplo. Atualmente essa doença é comummente conhecida como anorexia

Mais recente, no século XIX, Sara Jacobs teria um trágico fim. A jovem, conhecida por não comer, foi colocada, pelos seus pais, como atracção circense, que culminaria com a sua morte dois anos depois. O que nos remete para a história de Anna, que é em tudo semelhante.

Além da história central, Emma Donoghue mostra claramente tensão entre dois países que nunca se deram bem. A par disso, a diferença de religiões, católica e protestante, na forma de ver a fé e o fundamentalismo de algumas pessoas, sobretudo das menos letradas.

Dona de uma escrita ímpar que nos agarra à história de uma forma incrível, a juntar a isso uma capa lindíssima, só me resta desejar que não percam a oportunidade de ler este fantástico livro que me fez dar-lhe 5 estrelas no Goodreads e colocá-lo na minha lista de melhores livros lidos em 2017.





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