Título: Holocausto Brasileiro
Autor: Daniela Arbex
N.º de Páginas: 256 páginas + 16 (extratexto)
PVP: 15,50 €
Guerra e Paz|Clube do Livro SIC
Sinopse:
Milhares
de crianças, mulheres e homens foram violentamente torturados e mortos
no hospício de Colônia, em Barbacena, fundado em 1903. A maioria foi
internada sem diagnóstico de doença mental: eram meninas violadas que
engravidaram dos patrões, homossexuais, epilépticos, mulheres que os
maridos não queriam mais, alcoólicos, prostitutas. Ou simplesmente seres
humanos em profunda tristeza. Sem documentos, sem roupa e sem destino,
tornaram-se filhos de ninguém.
Em Holocausto Brasileiro, a
premiada jornalista de investigação Daniela Arbex resgata do
esquecimento esta chocante e macabra história do século XX brasileiro:
um genocídio feito pelas mãos do Estado, com a conivência de médicos,
funcionários e população, que roubou a dignidade e a vida a 60.000
pessoas.
Bebiam água do esgoto. Comiam ratos. Morriam ao frio e à
fome. Eram exterminados com electrochoques tão fortes, que toda a cidade
ficava sem luz, por sobrecarga da rede. Os bebés eram roubados às mães
logo à nascença. Nos períodos de maior lotação, morriam 16 pessoas por
dia dentro dos muros do Colônia. Ao morrer, davam lucro. Os cadáveres
eram vendidos às faculdades de medicina. Quando o número de corpos
excedia a procura, eram decompostos em ácido, no pátio, diante dos
pacientes. Os ossos eram comercializados. Nada ali se perdia. Excepto a
vida.
É a essas 60.000 pessoas que Daniela Arbex devolve agora o
rosto e a identidade, num relato que recupera o testemunho dos poucos
sobreviventes e dá voz aos milhares que já não podem contar a sua
própria história. O hospício de Colônia só foi transformado em
verdadeiro Centro Hospitalar Psiquiátrico em 1980.
A minha opinião:
"Nada se perdia, excepto a vida."
Barbacena é uma cidade situada no estado de Minas Gerais. Mas também foi guarida do maior hospício do Brasil. O campo de concentração como assim foi designado, estava situado em Colônia, e roubou a dignidade a mais de 60 mil pessoas, a maior parte delas morrendo por lá.
Daniela Arbex faz um relato impressionante sobre a vida degradante dos "prisioneiros" do Colônia. Desde à falta de higiene e comida, passando por terem de beber água do esgoto por não lhe darem água potável, comerem ratos e serem sujeitos a electrochoques e a lobotomias...
E se à partida pensamos que os doentes do Colônia eram todos com problemas psíquicos, desenganamo-nos logo. "Estima-se que 70% das pessoas internadas não tivessem sequer uma doença mental. Muitas vezes a tristeza era a causa para o internamento." O Colônia servia como uma prisão para aqueles cujas famílias queriam ver afastados de suas casas. Jovens grávidas, homossexuais, alcoólicos, mendigos, cegos.
"Começava a trabalhar num campo de concentração travestido de hospital."
Apesar de já ter lido muito sobre o holocausto nazi consegui impressionar-me com o que os pacientes do Colônia tiveram de passar. A morte estava sempre por parte, chegando a morrer, em média, 16 pessoas por dia. Das 60 mil internadas só 200 chegaram aos dias de hoje, praticamente todas retratadas por Daniela Arbex no seu livro. Das coisas que mais me chocaram foi o facto de não permitirem dos pacientes qualquer contacto com o exterior e os bebés que as mulheres tinham eram-lhes tirados. Mulheres completamente desgostosas morriam à espera de que um dia pudessem encontrar-se com os seus rebentos fora daquele local. A maior parte das vezes não aconteceu.
Não entendo como é que um local como esse nunca foi do interesse dos políticos. Nunca se mostraram interessados em desactivá-lo. Nem mesmo por parte dos médicos, tendo a maior parte sido conivente com as mortes e atrocidades que por lá existiam. Talvez porque os corpos dos indigentes lhes dessem de alguma forma jeito para os estudos nas aulas de medicina...
Daniel Arbex soube contar, de uma forma resumida mas tocante, acompanhado de fotografias de época e actuais, um dos livros que mais me impressionou ler este ano.
Recomendo a sua leitura.
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