Título: Anatomia dos Mártires
Autor: João Tordo
Editora: D. Quixote
N.º de Páginas: 272
PVP: 15,90€
Sinopse:
"Anatomia dos Mártires" é a história de uma obsessão verdadeira
transformada em ficção - a de uma investigação contemporânea (e
original) sobre o mito de Catarina Eufémia - e também a tentativa de
reconciliação de um escritor nascido imediatamente após a Revolução de
Abril com o passado. Um jornalista insensato e ambicioso quer provar ao
seu editor - um comunista irascível, alcoólico e com bastante desprezo
pelos jovens - que não é só mais um na redacção. Escolhido para ir a
Berlim entrevistar o biógrafo de um mártir religioso, aproveita a deixa
para fazer, no seu artigo, uma analogia com a história de Catarina
Eufémia, a camponesa que se tornou um ícone do Partido Comunista, mas de
quem, na verdade, pouco ou nada sabe. Quando, porém, o artigo é
publicado, as reacções de indignação por parte dos leitores não se fazem
esperar, algumas das quais bastante ameaçadoras; e, na noite em que o
editor é encontrado na rua em coma, aparentemente brutalizado, o
jornalista pergunta-se se não terá sido por defender publicamente o seu
artigo e começa a suspeitar de que existe muito mais em jogo do que a
simples memória de uma camponesa assassinada pela GNR durante a
ditadura. É então que decide investigar obsessivamente a vida de
Catarina, desbravando por entre o nevoeiro que paira sobre os mártires e
os transforma em mitos de que sempre alguém se apodera. E encontra
realidades bem distintas - e mais tenebrosas - do que podia esperar.
A minha opinião:
Anatomia dos Mártires é a minha estreia com João Tordo, aborda a história de uma mártir portuguesa, Catarina Eufémia, tendo-se transformado, após o seu assassinato, no símbolo da resistência antifascista.
O suicício de um homem que se atira de um prédio e é transformado em mártir e a viagem até Baleizão, no Alentejo profundo tendo como companhia de viagem o editor-chefe, Cinzas vai transformar um apático jornalista num alvo de interesse.
O seu texto, publicado na revista pertencente ao jornal mais vendido em Portugal, vai fazer dele uma pessoa não muito querida por parte da ala comunista. No seu texto sobre o mártir religioso estrangeiro, o jovem jornalista alude a Catarina Eufémia, sobretudo para agradar a Cinzas, um comunista convicto que vê na mártir comunista um exemplo de coragem e determinação. Mas o texto não o deixa em paz levando a partir para uma investigação profunda sobre quem terá sido uma mulher de quem pouco se fala actualmente.
Tordo volta a ser jornalista, reeencarnando no protagonista, investigando a fundo sobre quem foi a mártir escolhida pelo Partido Comunista. Uma jovem mulher assassinada a 19 de Maio de 1954 por um militar da GNR, de costas e, ao que tudo indica, com um filho nos braços, é transformada no símbolo do partido. Catarina, mãe de três filhos e poderia estar grávida de um quarto.
No decorrer da investigação, sempre baseada em testemunhos e no pouco que foi escrito sobre Catarina o jornalista continua a questionar-se: Seria ela uma militante comunista ou unicamente uma mulher em luta pela própria sobrevivência e dos seus filhos?
Gostei da escrita de Tordo, gostei da forma como foi abordada Catarina Eufémia, cada vez mais desconhecida para as pessoas em geral, e gostei da forma como o autor criou uma personagem imatura, inexperiente, mas real, com um amigo afectado pela crise económica mundial, por uma amante irlandesa, também ela jornalista, e por um pai senil.
Este foi o meu primeiro livro de João Tordo, mas certamente não será o último.
Recomendo.
Excertos:
"Era assim que se vivia em Portugal: vivia-se com medo e por causa do medo não se chegava a viver."
"-entre as meias-verdades e as meias-mentiras de que a história dos incompreendidos se vai alimentando - que me continuava a surpreender que nunca alguém se tivesse ocupado dela com a dedicação que merecia."
1 comentário:
Viva,
Gostei imenso do comentário e sem duvida que deve ser uma excelente leitura e no fundo até acabamos por ficar a saber mais sobre a nossa história :)
Bjs e boas leituras
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