segunda-feira, 10 de junho de 2013

Madrugada Suja - Miguel Sousa Tavares [Opinião]


Título: Madrugada Suja
Autor: Miguel Sousa Tavares
Edição/reimpressão: 2013
Páginas: 352
Editor: Clube do Autor
PVP: 20€

Sinopse:
No princípio, há uma madrugada suja: uma noite de álcool de estudantes que acaba num pesadelo que vai perseguir os seus protagonistas durante anos. Depois, há uma aldeia do interior alentejano que se vai despovoando aos poucos, até restar apenas um avô e um neto. Filipe, o neto, parte para o mundo sem esquecer a sua aldeia e tudo o que lá aprendeu. As circunstâncias do seu trabalho levam-no a tropeçar num caso de corrupção política, que vai da base até ao topo. Ele enreda-se na trama, ao mesmo tempo que esta se confunde com o seu passado esquecido. Intercaladamente, e através de várias vozes narrativas, seguimos o destino dessa aldeia e em simultâneo o dos protagonistas daquela madrugada suja e daquela intriga política. Até que o final do dia e o raio verde venham pôr em ordem o caos aparente.
 

A minha opinião:
Madrugada Suja é bem diferente de Equador e Rio das Flores. Neste seu novo romance Miguel Sousa Tavares (MST) leva-nos para o Portugal pós-revolução, mas também para o Portugal corrupto dos dias de hoje, para a política a qualquer preço, para a desertificação das aldeias alentejanas, um pouco do espelho de todo o interior do país...

Se numa primeira parte MST nos leva para uma festa de jovens universitários que acabou mal, depressa nos remete para um ambiente familiar de uma típica aldeia alentejana, onde toda a gente se conhece e convive como se de família se tratasse.

A primeira parte vai ter reflexos no futuro de alguns personagens, que só se desvendarão muito mais tarde. A escolha de maus "amigos" leva a que se esconda um crime que terá reflexos no futuro do personagem principal.

Medronhais da Serra é a aldeia alentejana onde vivem as personagens principais. Um casal de idosos, um filho[Francisco] muito metido consigo próprio e um neto ainda pequeno, que cresce sem mãe. A altura do PREC, Verão Quente de 1975, da reforma agrária, vai levar a que Francisco parta com um grupo de revolucionários e nunca mais volte. Filipe, o filho esquecido, acaba por ser educado com os seus avós, vivendo numa aldeia pequena, mas que fica sempre na lembrança, mesmo depois, de ele próprio, partir.

Através de Filipe MST leva-nos também a conhecer, como se não já não soubéssemos, um Portugal corrupto, onde se constroem campos de golfe em zonas verdes, onde se compram políticos por tuta e meia, onde se muda de cor política como se muda de camisola, onde se constroem autoestradas que levam a nenhures...

Muito além de um romance, Madrugada Suja é a uma crítica dura a Portugal. Muito bom.

Excerto:

"Um Portugal de aldeias mortas, de comerciantes falidos, de agricultores sentados à berma das estradas construídas com os dinheiros da Europa, vendo passar os grandes camiões TIR que traziam de Espanha e dessa Europa as frutas e os legumes criados em estufas maiores do que quaisquer hortas deles, em direcção aos centros comerciais onde, em breve, eles próprios aprenderiam o novo e insípido sabor dos melões e das cebolas, dos reinventados “frangos do campo”, ou dos porcos sem gordura nem pecado, embalados em vácuo."





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