quinta-feira, 9 de maio de 2013

Guia Para 50 Personagens da Ficção Portuguesa - Bruno Vieira Amaral [Opinião]

Título: Guia Para 50 Personagens da Ficção Portuguesa
Autor:
Bruno Vieira Amaral
N.º de Páginas: 264
PVP: 15,99 €
Género: Não Ficção/Literatura Portuguesa

Sinopse:
Criadas estranguláveis e bons malandros, cabeleireiras ambiciosas e escritores inseguros, heterónimos ressuscitados e professores suspeitos, polícias cansados e almocreves incansáveis, mulheres-anjo e mulheres-demónio, marialvas e tímidos, ex-seminaristas e assassinos profissionais, emigrantes e retornados, padres e ministras, heróis e vilões.

Ao longo de mais de um século e meio, os melhores autores portugueses contribuíram para a riqueza e diversidade desta galeria onde não raras vezes o leitor encontrará o reflexo dos seus vizinhos e familiares, dos seus amigos e colegas de trabalho e onde não se deverá espantar por encontrar o seu próprio reflexo. Porque estas figuras compostas de papel, tinta e palavras são, afinal, pessoas como nós.

Pela primeira vez, cinquenta das melhores e mais representativas personagens da Literatura Portuguesa dos últimos dois séculos são apresentadas num único livro. Os textos escritos por Bruno Vieira Amaral são um convite à leitura dos romances, o habitat natural de cada uma das personagens, mas também um extraordinário retrato da história e evolução de um país, Portugal. 

A minha opinião:
Como foi bom recordar algumas das personagens que fizeram parte do meu imaginário e que tanta companhia me fizeram...

No livro Guia para 50 personagens da ficção portuguesa, Bruno Vieira Amaral cria uma espécie de dicionário ou enciclopédia que reúne 50 nomes marcantes da literatura portuguesa, dos últimos 150 anos. E ao longo destas 50 personagens fui reconhecendo algumas, que me trouxe as recordações de livros lidos, mas também me avivou a curiosidade para outras tantas, que me fez sentir vontade de pegar nalguns dos livros que tenho por ler nas estantes, e deliciar-me com tão ricas personagens.

Mas Bruno Vieira Amaral brinda-nos com mais do que 50 personagens, já que juntamente com elas vêm outras, também importantes, para o enredo das histórias. Tal é o caso de Simão Botelho e Teresa de Albuqueque tão unidos no amor como na morte e também no protagonismo deste livro; Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete Luas, casal criado por Saramago unidos pelo amor e pela passarola voadora; Y e Fernão personagens adúlteras de Um Amor Feliz de David Mourão-Ferreira; Renato e Marlene unidos pelo amor e pelo crime em Crónica dos Bons Malandros de Mário Zambujal.


Nomes como a maléfica Juliana (O Primo Basílio, Eça de Queirós, 1878); Gineto (Esteiros, Soeiro Pereira Gomes,1941); Luís Bernardo Valença (Equador, Miguel Sousa Tavares, 2003); Padre Amaro (O Crime do Padre Amaro, Eça de Queirós, 1875); Simão Botelho e Teresa de Albuquerque (Amor de Perdição, Camilo Castelo Branco, 1862); Avô (Cão velho entre Flores, Baptista-Bastos, 1974); Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete Luas (Memorial do Convento, José Saramago, 1982); Quina (A Sibila, Agustina Bessa-Luís, 1954); Joaninha (Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett, 1846); Jenny Whitestone (Uma Família Inglesa, Júlio Dinis, 1868); Madalena (A Morgadinha dos Canaviais, 1868); João da Ega (Os Maias, Eça de Queirós, 1888); Teodorico Raposo (A Relíquia, Eça de Queirós, 1887); Calisto Elói (A Queda de um Anjo, Camilo Castelo Branco, 1866), Jaime Ramos (Um Crime Capital, Francisco José Viegas, 2001) e Ricardo Reis (O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984), foram as personagens que fui revivendo. Umas mais adoráveis que outras, de uns livros que gostei, outros que adorei, e outros que odiei ainda mais...

Mas muitas mais ficaram por conhecer. Algumas vou querer, sem qualquer dúvida, conhecer bem mais a fundo... os livros já estão anotados.

Este é um livro para ser acompanhado por um lápis (para quem não se importa de sublinhá-lo à medida que vão lendo) e por um papel (ou vários).

É um livro para ter na estante e ir pegando nele sempre que queiramos recordar personagens que nos estão na memória. Um livro que referencia personagens importantes da nossa literatura. Um livro a não perder para quem é amante dos livros.

Excertos:
"A tristeza veio-lhe na infância, herdou-a do pai que por sua vez a recebera do avô pelo lado masculino, família de melancolias, os cismas, e transmitira-a ao filho, elo destruído da cadeia, viúvo e o que perde uma parte da vida e sobrevive, que existe com a morte dentro de si – acabamos todos por ser viúvos, viúvos de pessoas, de sentimentos, de sonhos, de esperanças, seres metade no lado de cá, metade no lado de lá, sagitários em cavalgadas brumosas” - O Viúvo de Fernando Dacosta.

“Porque quem tem uma vida pela frente pode reinventar-se em qualquer lugar, pode imaginar as raparidas de cerejas a fazer de brincos, mas quem já percorreu três quartos do caminho da vida, que vida é que pode inventar, se ficou tudo em Angola?” da personagem Mário do livro O Retorno de Dulce Maria Cardoso.

"Gineto é moço sem ter sido menino...a desistir dos sonhos quase antes de os terem sonhado", sobre Gineto, personagem criada por Soeiro Pereira Gomes em Esteiros.

"É esse outro dos milagres da ficção: a capacidade de exumar um cadáver histórico e trasladá-lo para a pira literária, inflando-o de vida.", sobre a personagem Viriato do livro "A Voz dos Deuses" de João Aguiar.

"Alguém disse que o verdadeiro amor é renunciar ao poder que se tem sobre o outro."

"Ele é o amigalhaço com o que se partilham os sonhos, mesmo os mais absurdos, o que nos faz acreditar que tudo é possível, génio que nos vê génios, que nos anima nas empreitadas sem futuro, e que, quando este chega, nos conforta com o seu fracasso gémeo.", sobre Ega de Os Maias de Eça de Queirós. 

Sobre o Rapaz sem nome que Molero investiga: "O que interessa o nome quando ele é maior do que a vida, bola de fogo poética a atravessar o céu?", O que diz Molero, Dinis Machado.  

 

Sem comentários:

WOOK - www.wook.pt