Título: Dentro do Segredo - Uma viagem na Coreia do Norte
Autor: José Luís Peixoto
Edição/reimpressão: 2012
Páginas: 304
Editor: Quetzal
Sinopse:
Desde o interior da ditadura mais repressiva do mundo, desde um país coberto por absoluto isolamento, Dentro do Segredo. Em abril de 2012, José Luís Peixoto foi um espectador privilegiado nas exuberantes comemorações do centenário do nascimento de Kim Il-sung, em Pyongyang, na Coreia do Norte.
Também nessa ocasião, participou na viagem mais extensa e longa que o governo norte-coreano autorizou nos últimos anos, tendo passado por todos os pontos simbólicos do país e do regime, mas também por algumas cidades e lugares que não recebiam visitantes estrangeiros há mais de sessenta anos.
A surpreendente estreia de José Luís Peixoto na literatura de viagens leva-nos através de um olhar inédito e fascinante ao quotidiano da sociedade mais fechada do mundo. Repleto de episódios memoráveis, num tom pessoal que chega a transcender o próprio género, Dentro do Segredo é um relato sobre o outro que, ao mesmo tempo, inevitavelmente, revela muito sobre nós próprios.
A minha opinião:
Com o intuito de escrever algo que se afastasse de tudo o que já tinha feito, José Luís Peixoto decide partir em viagem à Coreia do Norte e daí resulta Dentro do Segredo, um livro que recomendo para quem quer saber mais do regime que se vive naquele país.
Apesar de não ter descoberto nada de estrondoso da política daquele país, até porque eles próprios não deixam, gostei desta crónica de viagens que, apesar de tudo, me fez ficar de boca aberta com alguns episódios caricatos.
José Luís Peixoto parte para uma viagem marcada com bastante antecedência e cuja visita oficial guiada é a única possibilidade de contacto com a cultura norte coreana. Sendo o regime totalitário mais fechado do mundo era de prever que não “deixassem” os turistas andarem sozinhos, de modo a descobrir o que o poder não quer ver descoberto.
Para tal, teve de deixar o telemóvel à entrada do país, assim como o seu passaporte, que seriam devolvidos à saída. Se Peixoto quisesse comunicar com o exterior tinha sempre o telefone fixo do hotel cujo minuto custava 6 euros. E bastava que a chamada fosse efectuada, mesmo que ninguém atendesse, os 6 euros seriam cobrados.
As fotografias teriam também de ser autorizadas pelos guias, ressalvando que não se podiam fotografar estátuas ou imagens dos líderes que não fossem de corpo inteiro. As fotos seriam visionadas também ao fim de modo a ver se alguém quebraria as regras.
Deste país cujo culto da personalidade dos líderes, quer seja dos passados ou presentes, é uma constante, a população apenas sabe aquilo que o poder quer que saibam. Música estrangeira nem pensar. Livros também não, embora Peixoto tivesse levado Dom Quixote para ler no quarto às escondidas.
Nas visitas guiadas o autor só vê aquilo que os guias, senhor e senhora Kim, quer que veja. Desde fábricas que supostamente produzem milhares de toneladas em produtos, mas que não se vêem trabalhadores suficientes, até cidades que não recebiam estrangeiros há mais de sessenta anos.
Resta falar ainda das sumptuosas infra-estruturas, do inacabado hotel ryugyong, um dos mais altos do mundo, e que todos os coreanos tendem agora a ignorar; da comida fora do prazo e do facto de, pela primeira vez, José Luís Peixoto ter comido carne de cão.
Excerto:
"Num mundo imperfeito, não há ninguém que esteja sempre certo."
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