Autor: Jean Pailler
Edição/reimpressão: 2010
Páginas: 248
Editor: Editora Planeta
PVP: 15,95€
Sinopse:
A história de uma conspiração política e de uma paixão inconveniente, nos conturbados anos que antecederam a instauração da República em Portugal, marcados pelo regicídio, em Fevereiro de 1908.
Em 1905, D. Carlos de Portugal e a Rainha D. Amélia fazem uma visita oficial a Paris. É um sucesso internacional que não anula as conturbações internas.
O país está em falência económica e o sistema político mostra-se ineficaz na resolução dos problemas. D. Carlos toma medidas de força para repor a ordem, arriscando-se a ultrapassar os limites do seu poder constitucional. O Partido Republicano reforça-se. E a ideia de depor o Rei, substituindo-o pelo seu filho, ganha força nos bastidores do meio político.
Entretanto, o Príncipe D. Luiz trava outras batalhas, de coração, rendido a uma jovem brasileira da mais alta sociedade. Amélia Laredo possui todas as qualidades de uma rainha - salvo o nascimento. Incapaz de aceitar a impossibilidade daquela ligação, o casal tem uma filha. Perante o embaraço deste nascimento, o rei, inspirado pela rainha-mãe, D. Maria Pia, decide-se por uma solução temporária que acautela o futuro e protege a honra de todos.
Mas os acontecimentos precipitam-se. Os sonhos de amor e as lutas políticas acabam tragicamente na Rua do Arsenal. No dia 1 de Fevereiro de 1908, Lisboa acorda com o assassinato do Rei D. Carlos e do Príncipe herdeiro, deixando, por um lado, Portugal em mãos demasiado fracas e abandonando, por outro, Amélia Laredo e a sua filha à incerteza de um grande segredo.
A minha opinião:
Em casa, e estando a terminar de ler este maravilhoso livro de Jean Pailler, eis senão quando me surpreendo que o autor vai estar presente no programa “Tardes da Júlia” para falar da sua mais recente obra.
Aí, e começando por falar no regicídio, o autor revela que não compreende como é que em Fevereiro, em pleno Inverno, um rei andasse num carro completamente descoberto. E isso começou a fasciná-lo. Ao mesmo tempo, e baseado na história oficial que diz que o assassino principal, Manuel Buíça, acha estranho que tanto a polícia como outras pessoas presentes no Terreiro do Paço, não tenham dado conta de um homem estranho, que esteve no mesmo sítio durante uma hora. Manuel Buíça tinha consigo uma espingarda que guardava debaixo do capote.
“A minha suposição é que havia uma conjura, mas que parte dela era do conhecimento do próprio Rei e do Governo”. O autor continua dando como exemplo o atentado que tinha sucedido dois anos antes em Madrid, em que no seu próprio casamento, o rei de Espanha foi alvo de um atentado falhado. Portanto, “se houvesse um atentado, este poderia não ser assim tão mau para a imagem da família real”, caso deste atentado não resultasse a morte do rei, claro. D. Carlos estava no ponto de desequilíbrio da sua política, atravessando uma fase de duras críticas na imprensa e nas grandes cidades.
A estória tem início no ano de 1905, e estando D. Carlos em Paris, o pretendente ao trono português é ovacionado no Teatro D. Amélia deixando já antever que a população era contra as políticas de seu pai. Um mês mais tarde, nova revolta. Em Londres é planeado um ataque ao rei português por homens influentes de vários países: “O gordo é cada vez menos popular no pais dele. A sua substituição é capaz de ser bem recebida por muita gente.”
Mas não é só do regicídio de D. Carlos e Luís Filipe que trata o livro. A Tragédia da Rua do Arsenal retrata a história de amor vivida entre o herdeiro ao trono português e a brasileira Amélia Laredo, carinhosamente tratada por Luís Filipe de Lily, talvez para distinguir o seu nome do de sua mãe. E não se pense que Amélia Laredo não existiu na realidade. De facto, esta personagem faz parte da história portuguesa, mas não da maneira como é retratada no livro, ou pelo menos, nada há que confirme a estória relatada na obra, que retrata o amor entre Luís Filipe e Amélia, do qual resultou uma filha. Essa filha também existiu na realidade (morreu em 1995), mas diz-se ser filha ilegítima de D. Carlos, conhecido por ser muito mulherengo.
Na altura, e a mando da coroa espanhola, a criança, D. Maria Pia de Saxe-Coburgo e Bragança de Laredó e Murça, foi levada para Espanha onde fez lá toda a sua vida.
“A estória de amor é mais do que uma liberdade é uma prova do meu anarquismo completo na escrita”, revela Jean Pailler, que adianta ser mais provável a relação entre Amélia e Luís Filipe do que entre Amélia e D. Carlos.
“Parece-me que o herdeiro ao trono português, na altura com 20 anos, devesse ter um amor em alguma parte”, além disso, “não me parece que uma rapariga tão bonita tenha tido uma criança com o rei".
Um livro muito bem escrito que nos mostra um lado mais sentimental tanto do rei D. Carlos como do pretendente ao trono de Portugal, mesmo que um lado da estória seja apenas ficção. Recomendo, sobretudo aos amantes de romances históricos.
Pode saber ainda mais sobre a suposta filha ilegítima de D. Carlos I aqui
Excertos:
“Um assassino? Em Portugal, não, minha querida…O meu pai aboliu a pena de morte há muito tempo… e nós temos a melhor polícia da Europa… Por aí não arrisco nada… senão apanhar uma constipação a atravessar a praça…”
“Quero lá saber quem será deputado por Vila Clara! Quero lá saber quem vai ser ministro distou ou daquilo! E estou-me nas tintas para saber quem é o rei! O que conta é Portugal, e não vale a pena ir todas as noites à beira-mar esperar o regresso do albino impotente e louco, o famoso D. Sebastião, que está morto há quatro séculos e meio!”
Jean Pailler, autor do romance histórico "A Tragédia da Rua do Arsenal" - vai estar presente na livraria Bulhosa de Entrecampos, quarta-feira, às 18.30h. A Apresentação da obra estará a cargo de Júlio Conrado
4 comentários:
Passando pra deixar um Olá e desejar uma semana iluminada!
beijinhos!
Ao nosso Pailler cumprimentos!
O livro è muito bem feito.
E que tal um abaixo-assinado para ver se o governo português faz um teste de ADN, para se saber no fim de contas quem era o pai de Maria Pia? Afinal êxitem descendentes da senhora! E os cadáveres também não vão a lado nenhum! Ou será que o povo português não tem capacidade para aceitar a verdade? Eu cá adorava saber.
Concordo plenamente. Também eu gostava de saber :)
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