terça-feira, 10 de março de 2009

A Ofensa - Ricardo Menéndez Salmón [Opinião]


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"A Ofensa", de Ricardo Menéndez Salmón, chegou às livrarias, muito recentemente, nos primeiros dias de Março. Um romance "duro, elegante, belíssimo. A epopeia glacial de uma anomalia", nas palavras de Enrique Vila-Matas. (27-2-2009)
Considerado pela crítica como o melhor romance publicado em Espanha em 2007.
Finalista do Prémio Salombó e do Prémio Nacional da Crítica.

Eis "A Ofensa", de Ricardo Menéndez Salmón, publicado pela Porto Editora. Uma verdadeira metáfora de um século trágico, que surpreende e fascina os leitores.

Ricardo Menéndez Salmón transporta-nos à II Guerra Mundial para contar a história de Kurt Crüwell, um jovem e discreto alfaiate alemão que, ao entrar nas fileiras do exército nazi, submerge num quotidiano marcado pelo horror que o levará a perceber que a crueldade humana não tem limites. E o autor consegue-o de uma forma excepcional: nas palavras do crítico espanhol Fernando Menéndez, " A Ofensa não nasce desse 'costumbrismo' sentimental e grosseiro que abunda no actual romance espanhol; nem tão pouco dessa narrativa pop e chispante que se julga altamente provocativa. Nada disso. A escrita de Menéndez Salmón surge de onde sempre surgiu a melhor literatura: da necessidade de responder às grandes perguntas sobre a vida e o mundo em que vivemos."
A dada altura, pode ler-se "Há corpos que se atormentam e corpos que se libertam; há corpos que se arrastam e corpos que se elevam; há corpos que interrogam e corpos que respondem. Mas pode um corpo demitir-se da realidade? Pode um corpo face à agressão do mundo, face à fealdade do mundo, face ao horror do mundo, subtrair-se às suas funções, recusar-se a continuar a ser corpo, suspender as suas razões, abdicar de ser o que é, isto é, abdicar de ser uma máquina sensível? Pode um corpo dizer: «Basta, não quero ir mais longe, isto é demasiado para mim»? Pode um corpo esquecer-se de si próprio?".


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Pode ler os primeiros capítulos aqui

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Este livro mostra uma outra forma de ver a 2.ª Guerra Mundial. Através do protagonista Kurt, a história faz-se de uma outra forma, e é vista pelos olhos de um combatente do lado das tropas de Hitler. Kurt é chamado para a frente de combate, deixando para isso a sua pacata vida de alfaiate, numa pequena localidade da Alemanha. As atrocidades que se vai deparando ao longo da guerra acabam por lhe criar uma capa que, apesar de o proteger, passa para uma pessoa completamente fria e desprovida de quaisquer sentimentos. Desde não ter sentido nada quando soube da morte da sua namorada Rachel, judia, nem quando a actual companheira lhe disse estar grávida de um filho seu, já quando estava refugiado em Londres.
Kurt apenas queria esquecer um país chamado Alemanha, e nem a sua língua mãe queria sequer proferir. Desde que se refugiou em Londres passou a expressar-se apenas em inglês e nada o fazia querer lembrar daquele país. Este é um livro um pouco obscuro, mostrando o cinzentismo pelo qual passou a sua vida. Um livro interessante que mostra uma outra forma de ver a II Grande Guerra. Não quero deixar de agradecer à Porto Editora, que me proporcionou tão interessante leitura.

Citações:
"O heroísmo foi inventado para os que carecem de futuro"
"Tal como os afogados no seu último fôlego, o mundo desfilou diante dos seus olhos a uma velocidade vertiginosa. E fê-lo como um lugar estranho. Estranho porque para ele, que durante demasiado tempo tinha levado uma vida excepcional e monstruosa, os últimos anos em Londres, construídos em torno de uma existência pacífica e secreta, se tinham convertido numa espécie de retorno a um leito mais ou menos razoável, mais ou menos partilhado pelo comum dos mortais..."

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