terça-feira, 17 de março de 2009

António Botto faleceu há 50 anos


Hoje, dia 17 de Março, passam 50 anos sobre a morte de um dos maiores e também mais esquecidos poetas portugueses: António Botto.
António Tomás Botto nasceu em Abrantes a 17 de Agosto de 1897 e morreu no dia 17 de Março de
1959 no Rio de Janeiro.
A sua obra mais conhecida, e também a mais polémica, é o livro de poesia Canções que, pelo seu carácter abertamente homossexual, causou grande agitação nos meios religiosamente conservadores da época. Foi amigo pessoal de Fernando Pessoa que traduziu, em 1930 as suas Canções para inglês, e com quem colaborou numa Antologia de Poemas Portugueses Modernos. Homossexual assumido (apesar de ser casado com Carminda Silva), a sua obra reflecte muito da sua orientação sexual e no seu conjunto será, provavelmente, o mais distinto conjunto de poesia homoerótica de língua portuguesa. Morreu atropelado, por uma viatura oficial, em 1959 no Brasil, para onde se tinha exilado para fugir às perseguições homófobas de que foi vítima, na mais dolorosa miséria. Os seus restos mortais foram trasladados para o cemitério do Alto de São João, em Lisboa, em 1966.
António Botto tinha uma forte personalidade. Descrevem-no como magro, de estatura média, um dandy, de rosto oval, a boca muito pequena de lábios finos, os olhos amendoados, estranhos, inquisitivos e irónicos (de onde por vezes irrompia uma expressão pertubadoramente maliciosa) frequentemente ocultados sob um chapéu de abas largas.
Tinha um sentido de humor sardónico, incisivo, uma mente e língua perversos e irreverentes, e era um conversador brilhante e inteligente. Era amigo do seu amigo, mas ferozmente ruim se sentia que alguém antipatizava com ele ou não o tratava com a admiração incondicional que ele julgava merecer. Este seu feitio criou-lhe um grande número de inimigos. Alguns dos seus contemporâneos consideravam-no frívolo, mercurial, mundano, inculto, vingativo, mitómano, maldizente e, sobretudo, terrivelmente narcisista a ponto de ser megalómano.
Era visitante regular dos bairros boémios de Lisboa e das docas marítimas onde desfrutava a companhia dos marinheiros, tantas vezes tema da sua poesia. Apesar de ser sobretudo homossexual, António Botto foi casado até ao final da sua vida com Carminda Silva Rodrigues ("O casamento convém a todo homem belo e decadente", como escreveu).
A 9 de Novembro de 1942 António Botto foi demitido do seu emprego na função pública (escriturário de primeira-classe do Arquivo Geral de Identificação) por: "a) ter desacatado uma ordem verbal de transferência dada pelo primeiro oficial investido ao tempo em funções de director, por impedimento do efectivo;
b) não manter na repartição a devida compostura e aprumo, dirigindo galanteios e frases de sentido equívoco a um seu colega, denunciando tendências condenadas pela moral social;
c) fazer versos e recitá-los durante as horas regulamentares do funcionamento da repartição, prejudicando assim não só o rendimento dos serviços mas a sua própria disciplina interna."
Ao ler o anúncio publicado no Diário do Governo, Botto ficou profundamente desmoralizado e comentou com ironia: "Sou o único homossexual reconhecido no País..."
Para se sustentar passou a escrever artigos, colunas e crítica literária em jornais, e publicou vários livros, entre os quais "Os Contos de António Botto" e "O Livro das Crianças", uma colecção de sucesso de contos para crianças (que seria oficialmente aprovada como leitura escolar na Irlanda, sob o título The Children’s Book, traduzido por Alice Lawrence Oram). Mas tudo isto se revelou insuficiente. A sua saúde deteriorou-se devido à sífilis terciária que ele recusava tratar e o brilho da sua poesia começou a desvanecer-se. Era alvo de troça quando entrava nos cafés, livrarias e teatros. Por fim, cansou-se de viver em Portugal e em 1947 decidiu emigrar para o Brasil. Para juntar dinheiro para a viagem organizou, em Maio desse ano, recitais de poesia em Lisboa e no Porto, que resultaram em grandes sucessos, com elogios por parte de vários intelectuais e artistas, entre os quais Amália Rodrigues, João Villaret e o escritor Aquilino Ribeiro. A 17 de Agosto partiu finalmente para o Brasil com a sua mulher.
No Brasil residiu em São Paulo até 1951 quando se mudou para o Rio de Janeiro. Sobreviveu escrevendo artigos e colunas em jornais Portugueses e Brasileiros, participando em programas de rádio e organizando récitas de poesia em teatros, associações, clubes e, por fim, botequins.
A sua vida foi-se degradando de dia para dia e acabou por viver na mais profunda miséria. A sua megalomania agravada pela sífilis era gritante e não parava de contar histórias delirantes das visitas que André Gide lhe teria feito em Lisboa ("Se não foi o Gide, então foi o Marcel Proust..."), de ser o maior poeta vivo e de ser o dono de São Paulo. Em 1954 pediu para ser repatriado, mas desistiu por falta de dinheiro para a viagem. Em 1956 ficou gravemente doente e foi hospitalizado durante algum tempo.
A 4 de Março de 1959, ao atravessar a Avenida Copacabana, no Rio de Janeiro, foi atropelado por um automóvel do Governo. Cerca das 17h00 de 16 de Março de 1959, no Hospital da Beneficiência Portuguesa, Botto, mal barbeado e pobremente vestido, expira, abraçado pela sua inconsolável mulher, que o chora perdidamente.
O seu espólio será enviado do Brasil pela sua viúva Carminda Rodrigues a um parente, que o doará, em 1989, à Biblioteca Nacional.
Obra
Poesia: Trovas (1917); Cantigas de Saudade (1918); Cantares (1919); Canções (várias edições, revistas e acrescentadas pelo autor, entre 1921 e 1932); Canções do Sul; Motivos de Beleza (1923); Curiosidades Estéticas (1924); Pequenas Esculturas (1925); Olimpíadas (1927); Dandismo (1928); Ciúme (1934); Baionetas da Morte (1936); A Vida Que te Dei (1938); Sonetos (1938); O Livro do Povo (1944); Ódio e Amor (1947); Fátima - Poema do Mundo (1955); Ainda Não se Escreveu (1959).
Ficção: António (1933); Isto Sucedeu Assim (1940); Os Contos de António Botto (1942) - literatura infantil; Ele Que Diga Se Eu Minto (1945).

Teatro: Alfama (1933)
Esgotada desde há muitos anos, a obra completa de António Botto começou a ser reeditada, em 2008, pela Quasi Edições, a cargo do crítico literário e escritor Eduardo Pitta.
Fonte: Wikipedia

A par de Fernando Pessoa, António Botto é o meu poeta preferido. Odiado por tantos, hoje em dia começa a ser reconhecido e apreciado de tal forma que a sua obra se encontra esgotada há muitos anos. Tive a felicidade (e sorte) de comprar uma edição já antiga de Canções, edição Círculo de Leitores, através de um leilão na internet. Anda vem... Anda vem..., porque te negas,Carne morena, toda perfume?Porque te calas,Porque esmoreces,Boca vermelha --- rosa de lume? Se a luz do diaTe cobre de pejo,Esperemos a noite presos num beijo. Dá-me o infinito gozoDe contigo adormecerDevagarinho, sentindoO aroma e o calorDa tua carne, meu amor! E ouve, mancebo alado:Entrega-te, sê contente!--- Nem todo o prazerTem vileza ou tem pecado! Anda, vem!... Dá-me o teu corpoEm troca dos meus desejos...Tenho saudades da vida!Tenho sede dos teus beijos!

Pode ainda ver as notícias que saíram no Expresso desta semana
aqui e aqui.

4 comentários:

Isabel disse...

Confesso que também não conheço a obra de António Botto, mas fiquei com curiosidade.
Vim visitar o teu blog e achei muito interessante, vou aparecer por aqui com mais frequência, para ver as tuas sugestões literárias.
Bjs

Isabel disse...

A frase no ínicio do blog é linda.

Maria Manuel Magalhães disse...

Obrigada pelas tuas palavras. Fico feliz por teres gostado blogue. Aproveita para conheceres melhor o grande poeta que é António Botto, tem poemas lindos, lindos... vale a pena

Tétis disse...

Uma justíssima e bonita homenagem a António Botto, esse poeta português tão esquecido e de quem a grande maioria nem sequer ouviu falar.

Parabéns pela lembrança e pelo post.

WOOK - www.wook.pt