sábado, 10 de janeiro de 2009

A Vida num Sopro - José Rodrigues dos Santos


Portugal, anos 30.
Salazar acabou de ascender ao poder e, com mão de ferro, vai impondo a ordem no país. Portugal muda de vida. As contas públicas são equilibradas, Beatriz Costa anima o Parque Mayer, a PVDE cala a oposição.
Luís é um estudante idealista que se cruza no liceu de Bragança com os olhos cor de mel de Amélia. O amor entre os dois vai, porém, ser duramente posto à prova por três acontecimentos que os ultrapassam: a oposição da mãe da rapariga, um assassinato inesperado e a guerra civil de Espanha.
Através da história de uma paixão que desafia os valores tradicionais do Portugal conservador, este fascinante romance transporta-nos ao fogo dos anos em que se forjou o Estado Novo.

Luís, jovem estudante em Bragança apaixona-se perdidamente pela colega de liceu, Amélia, jovem órfã de pai, que morreu devido aos gases tóxicos da I Guerra Mundial. Este amor entre os jovens estudantes vai mudar-lhes para sempre a sua vida, isto porque a mãe de Amélia opõe-se ao namoro dos jovens e ao posterior casamento.
Num fim-de-semana Amélia desaparece e Luís acaba por não saber mais nada da sua amada e prossegue a sua vida. Para tirar o curso de Veterinário ruma a Lisboa, onde se torna num bom vivant coleccionando namoradas, entre as quais uma corista do Parque Mayer, relação que lhe vem a trazer problemas com a PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado). No entanto, é em Amélia que pensa sempre.
Após terminado o curso, Luís constata que está na lista para ir para a tropa. Naquela altura havia falta de veterinários na tropa e acabaram por convocar o jovem licenciado Luís Afonso para fazer o Regime Militar em Penafiel. É aí que conhece aquela que vai ser a sua esposa. Durante a sua estada no Douro ocorre um assassinato que vai mudar para sempre a vida do jovem veterinário. A oposição ao regime vigente também não vai trazer coisas boas a Luís Afonso que é mandado para a sua região natal, Trás-os-Montes e é aí que é chamado a Lisboa onde lhe fazem uma proposta que leva Luís Afonso à prisão, por não aceitar o acordado.
Um livro muito interessante, envolvente e emocionante, embora o final começasse a ser previsível desde que Luís Afonso foi ouvido pela pedive (nome que a população dava à PVDE).
Pelo caminho foram relatadas algumas situações do antigo regime, sobretudo da discrepância na lei para homens e mulheres. Como exemplo o livro revela a Lei de Depósito do homem sobre a sua mulher. Apesar de existir antes de 1910, a lei havia sido abolida, mas com o Estado Novo voltou a estar vigente. A lei compreendia que se a mulher por algum motivo saísse de casa, o marido podia fazê-la regressar de forma compulsiva. Em contraponto, o Estado dizia que tinha dado à mulher o poder de voto, embora todos soubessem que sendo a mulher mais conservadora e católica votaria no Governo vigente. No entanto, o artigo sobre o poder dos homens era esclarecedor: a mulher não podia exercer comércio nem sair do país sem autorização do marido. O marido podia ainda anular o casamento se descobrisse que a mulher não casou virgem. Além disso, para um caso semelhante as sentenças eram diferentes dependendo se eram para o homem ou para a mulher. O artigo 461 dava permissão de o marido poder violar a correspondência da mulher, mas o contrário não era válido. O mesmo artigo ia mais longe. Previa uma pena branda ao marido que assassinasse a mulher caso a apanhasse em flagrante adultério. Mas o contrário não acontecia. Se a mulher apanhasse o marido em flagrante adultério e o matar, a pena seria pesada.
Outro dos temas, é a ‘requisição’ de informadores. Muitas pessoas eram coagidas a serem informadores do regime, sob forma de ameaças. Para tal, a PVDE chegava a arranjar provas para incriminar algumas pessoas por forma a, sob ameaças, as pessoas não verem alternativa. Teriam que passar a ser ‘bufos’ caso contrário seriam presos. Normalmente, essas pessoas coagidas a ser informadores eram simpatizantes do Partido Comunista ou contra algumas leis do antigo regime, por forma a ninguém imaginar que seriam eles os informadores.

2 comentários:

Dulce disse...

Gost imenso de José Rodrigues dos Santos escritor.
A vida num sopro e a filha do capitão adorei. Estou um pouquinho farta do Tomás Noronha!!
Dulce Barbosa

São disse...

Um final triste mas real... uma reflexão muito bem feita e um excelente retrato daquilo que foi o Estado Novo no nosso país... Adorei o livro :)

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